Friday, October 29, 2004

Razões Para Immortal X Ter Um Blog

Número 1. Para que as pessoas encontrem passagens alternativas e desconhecidas nesse labirinto complicado que é a minha psique, libido... e insanidade. Tenho amigos de trabalho, de balada, de "pingaiada", de nevasca, de longa data...(tem alguns que entram em mais de uma categoria), existem ainda aqueles que me vêem apenas como a "teacher" um tanto doida e sem noção...(tem horas que pego os pobres me olhando assustados como que pensando: nããããão! ela não disse isso!). Tsk tsk... Não posso esquecer da galera geração saúde, da época em que bolas de vôlei e redes faziam parte dos meus sonhos... Existe ainda a fase "facul" quando apesar de ser uma das pessoas mais tortas que eu conheço... fiz Direito. Os mais curiosos podem fazer uma pequena visitinha à UNIFEOB e ver minha singela foto lá, a ganhar poeira e olhares um tanto incrédulos... Além disso, ainda existem os parentes... aqueles que nem imaginam... bom, deixa pra lá. Falta mencionar os incontáveis amores platônicos que se tornaram fontes amargas de mil e uma palavras poéticas e rimas mórbidas... Estes que talvez nem imaginem, nem suspeitem que seus tantos verdes olhos já assombraram meus sonhos, tiraram o meu fôlego e perseguiram meus pensamentos. Conto numa mão as pessoas que me viram chorar, e garanto que existe gente que deve pensar que vivo numa TPM eterna...(bom, os vacinados, tipo Le Magicien (Evil ) Highlander, Vanessa (saudades!) primas, já pressentem pelo olhar, tipo serial killer, que talvez seja melhor voltar num outro dia...). A razão número um é mostrar minhas outras facetas (uma palavra esquisitinha hein?...) para a galera que participa da minha vida de uma forma ou de outra.
Número 2: Não tem!
E Já que estou falando dos vários amigos, parece ser uma hora bem propícia para divulgar meu testamento. Eu escrevi no ano passado, numa fase um tanto... "down", pouco antes de deixar Brave Heart entrar em minha vida e começarmos então uma viagem louca pelas "estações"... Só quero acrescentar algumas cláusulas: Para Le Magicien e Vanessa, deixo minhas fitas de Xena. Para minha prima Carola, deixo meus CDs. Para Brave Heart, deixo meu sangue, o toque gelado de minha boca, os sonhos que acalentamos, e ainda, Scullie, minha "doga". Para meu amigo Highlander, deixo um copo de whisky, e todas as lembranças do nosso veneno compartilhado, devidamente inoculado em tantas vítimas do nosso sarcasmo irreverente.


TESTAMENTO
Tudo girou pro lado errado...
O controle foi perdido,
O intelecto prejudicado.
O coração é mentiroso,
Não passa de fraude
Barata e covarde,
Um artista, um medroso.


Não se esqueçam:
Não haverá choro,
Não haverá vela.
Não quero nada,
Não quero coro,
Apenas amigos,
Também desafetos,
Colegas queridos,
Seres abjetos
E pessoas apagadas
Pela minha maldade
E vontade de ser superior
Será que não amei o suficiente?
Ou foi tudo excesso de amor?
Seja como for, já foi...
É passado, ultrapassado.
Foi tudo tão errado...
E certo ao mesmo tempo.
Equivocado, sensato
E sem sentido, exato.


Dói ouvir
Que tudo o que você quer
Não vem de mim...
Doeu seguir
Errôneas pistas,
Enganações implícitas,
Camufladas, maquinadas
E concessões ilícitas.
Você permitiu minha perdição,
Iludiu com suas falas
E impecável atuação.


Eu acreditei...
E num toque
Eu entreguei o improvável,
Desejei o inalcançável,
O que não estava lá,
Que nunca esteve,
Nem nunca estará...
Pra terminar, por favor,
Minhas cinzas, ao mar.

Tuesday, October 26, 2004

As Estações (parte final)

Inverno

Desolação. Isolamento. Noites longas de palavras curtas. Escuridão insistente e misteriosa, encobrindo lembranças ternas, imagens eternas. Silêncio aflito tentando velar o que insiste em ser revelado - o vazio. Não sobrou nada para suspirar, gemer... nada para compartilhar, nada a declarar. Não há calor, apenas toques abortados, sorrisos mecânicos. Alheia a tudo, perplexa, surge uma pergunta cuja resposta fere a lógica e sangra a emoção: "Onde foi parar o amor?" Dúvida... Esquecimento... um outono apagado. Promessas... quebradas. "Onde está o amor?" Não habita mais aquele olhar, não permeia mais aquela voz. Angústia... sensação de perda. Carência... privação. Distância, cada vez maior, indiferença... descrença. É tudo passado... sem volta aparente. E o presente parece eterno, cercado de portas que levam a lugar nenhum, corpos que não conseguem fazê-lO regressar. Bocas que não saciam a língua traidora e odiosa. Olhos cada vez mais frios, cada vez mais sádicos, deixando marcas profundas, sonhos assassinados numa duradoura melancolia... Agonia... "Onde está o amor?" Frio. Trevas. Morte... Sim, pode ser que acabe desta forma. É possível, é corriqueiro, mas não fatal. Existe uma continuidade nascida num ato de esperança no renascer contínuo que é a vida. Tudo está em constante mutação, e da mesma forma que o tudo vira nada, do nada se forma um mundo. Um mundo novo. Das profundezas da terra, brotam novamente os sonhos. O ciclo se repete. A alma mais uma vez floresce com a chegada do sol, que ilumina as memórias encobertas, derretendo as mágoas e reacendendo o prazer de viver: Eis o amor.

Winter is nature's way of saying, "Up yours."
Robert Byrne
* O Inverno é a maneira da natureza dizer, "Vai tomar no c*".

Saturday, October 23, 2004

As Estações (parte 3)

Outono


Em meio a mortos, feridos, sangue, lágrimas, egos reescritos e perdidos, eis que surge o Sentimento. O saldo de uma árdua batalha num deserto de incompreensão, obtido após tempestades de ilusões cortadas, mágoas e utópicas aspirações perdidas na areia. O Sentimento que rompeu os limites da decepção e conseguiu tornar-se inteiro e exato, sem preciso ser. E que se apresenta aos olhos numa proporção real e sem enganações, sincero. É possível dizer: "Eu vejo, em partes podres e sãs, o todo genuíno, real. Eu não mais sigo as ilusões da minha vontade. Eu vejo. Eu compreendo, condeno, e apesar de tudo... eu amo." É o outono. Sem excessos, sem esforços, sem brigas. Apenas o ameno frescor de uma batalha vencida. Não há cores brilhantes ou luzes que cegam, e sim os tons pastéis criados por folhas mortas, caídas, simbolizando o aborto dos equívocos acalentados. Surge agora uma realidade que não se imaginava existir. É o verdadeiro amor cheio de lindas sensações oníricas que se materializam em forma de frutos, fortes, suculentos. São devidas recompensas por tantas penosas e espinhosas lições. O que se aprendeu em meio ao fogo ficará para sempre marcado na memória, como uma pira a iluminar o caminho prestes a ser trilhado. O caminho das almas gêmeas que em breve, terão que enfrentar um último obstáculo - o inverno- e sobreviver a ele.


"Delicious autumn! My very soul is wedded to it,
and if I were a bird I would fly about the earth
seeking the successive autumns. "
- George Eliot

* para anarfas: Outono delicioso! Minha alma está unida a ele, e se eu fosse um pássaro, eu voaria pela terra em busca de sucessivos outonos"

Thursday, October 21, 2004

As Estações (parte 2)

Verão


... a realidade então cai, pesada, desajeitada. Em que momento o cego pôde ver novamente? Que mãos benditas (ou malditas?) retiraram dele o câncer plantado, semeado com tantos sonhos e fantasias? Ele vê. Pupilas dilatam-se. É o réquiem de um sonho. Que triste cena contemplar os destroços e finalmente constatar: os pedaços não mais formam o todo. Em meio às brigas, desencontros, desentendimentos surge a raiva. A brisa suave da primavera vira um vendaval de discussões infundadas. A luz que antes cegava, agora consome, maltrata, força a enxergar e a prantear a mágica perdida. Faz cobiçar o ideal. O que era perfeito. Utópico.... Distante... Mas impossível? Talvez. É difícil reunir forças, resumir sentimentos, comunicar, combinar e então regatar uma relação em chamas. O que se pode aprender em meio ao fogo? Que lições são ensinadas por queimaduras de amor? Dessa mistura de suor, lágrimas, fumaça e cinzas talvez renasça a esperança. Tal como fênix ressurgindo das cinzas, eis que então brota a compreensão mútua. A admissão das culpas e erros. O aprender a perdoar e esquecer. A perda do orgulho e vaidade que abre portas para um espaço novo, inexplorado. Uma folha em branco. Uma visão totalmente desprovida de máscaras e devaneios. Os olhos vêem o que ali está....nu e cru, desprovido de maquiagem: um ser humano frágil e imperfeito, um esboço de eternidade à procura de sua própria verdade. Uma imperfeição cativante, que instiga e não impede o fluxo das emoções. Uma imperfeição que desafia o raciocínio lógico, semeando infinitas e inexplicadas razões para que, mesmo em árido solo, brote o amor...


"Ah summer, what power you have to make us suffer and like it" Russel Baker *Para anarfas: "Ah verão, que poder você tem de fazer-nos sofrer e gostar disso"

Wednesday, October 20, 2004

As Estações (parte 1)

Primavera


Dizem que tudo começa na primavera.... Será verdade? O amor, a amizade, a vida... É um tempo de esperanças, expectativas, sementes que florescem e paixões que se inflamam. Corações que se abrem como pétalas de flores entre promessas feitas, ilusões, cores. Tudo brilha, tudo é tão claro... Claro demais. Todo o brilho ofusca uma escuridão inerente, ali à margem da sensação, na tangente da emoção, à espreita. Fica difícil discernir a realidade, desvencilhar a verdade do sonho, o sonho da desilusão que é certa, iminente... Não acreditem na primavera, ela mente, ela engana, acalenta falsidades, e em um dado momento, se torna tão febril que é impossível o simples e racional pensar. É o calor sutil que lentamente vai tomando conta, ganhando terreno, chegando ao extremo.... Os sentimentos magnificados são tão novos e imaculados... "Eu te amo" parece simples e não há como escapar... É uma rota de colisão. Aos olhos cegos, tudo parece a mesma coisa, tudo tem a mesma forma, invocando o mesmo nome. Todas as músicas têm o mesmo tema. A perfeição surge do nada, sem partida, sem chegada, simplesmente indefinida. A perfeição chega do nada. E num nada se transforma. Nessa trajetória incerta, às vezes longa, muitas vezes curta e amargamente dolorida, surge o conflito. Surge o verão.


Aproveitem a primavera dos seus sentimentos. Os momentos mais belos, apesar de efêmeros, acontecem aí. Momentos bobos e singelos afloram. As conversas mais "disgustingly cute" (algo como: "odiosamente fofas") que já tive aconteceram nessa estação. Ela não muda... jamais. A única mudança que ocorre, reside em algum plano entre a inocência e a consciência de que mesmo sendo o mais belo dos sonhos, ele terá um fim. Mesmo sendo o mais suave dos perfumes, logo se tornará forte ou fraco demais. Mesmo sendo o mais forte dos sentimentos primaveris, ele vai desidratar, murchar e, talvez, derreter sob o calor do verão.
Nascida no mês da primavera - Setembro- Eu entendo de primaveras! Sou rainha das quimeras, metáforas e indefinidas esperas... Eu espero o fim da minha primavera. Espero o calor e as brasas. De mim vão restar apenas cinzas... cinzas... ao mar.

Tuesday, October 19, 2004

Fantasma

Da afetada insegurança
Vaguei pelas imundas ruas.
A desbotada, pouca esperança
Perdi aos poucos, louca...
Uma maltratada criança
Fui e assim me escondi, nua.
Com medo, sem teto,
Sem um teco, nem um dedo
De consciência.
Retardada
Na recatada
Indecência
De um nada
Que não o é.
De um sim
Que é não
Pra não ser tão
Estranho e sem fé,
Anormal,
Marginal,
Terminal...


Da turva mente
Olhei pela vidraça,
Vi o amor que ameaça,
Vi também a dor
Em sua mórbida graça,
O dormente ardor
Indigente, que não disfarça
A farsa do ser humano,
De fingir que é sano.


Sinto o calor gelado
De um amor odiado,
Engulo o riso mascarado
Que chora e ri
E que rindo me revolta
Pois no peito massacrado
Ele me sufoca,
Despreza, corta...


Eu vi você fechar as portas,
Meus pulsos cortar.
Não importa... eu já era
Seus verdes nem viram,
nem sentiram a minha espera.


No meu túmulo selado
Nem as flores murchando
Perceberam o recado
Que enviei murmurando
Com os lábios fechados:


Eu não quis
Ser tão atriz
Eu quis
Apenas ser feliz.